Qual o preço do analista? Quanto vale o trabalho de um psicólogo clínico? O quanto o analisando percebe. De nada vale receber um valor exorbitante se a análise não tem resultados. É bom financeiramente para quem recebe, mas no trabalho analítico é irrelevante, podendo servir até como desculpa por parte do analisando que, atrás do valor que paga, se esconde numa resistência do tipo “eu pago bem pela minha saúde mental”, portanto vou receber em troca, sem o comprometimento necessário para que isso aconteça.
Por outro lado, valores pagos considerados baixos podem significar muito em termos de como o paciente se vê, como alguém que não merece muito. Na verdade, o valor pago simboliza em dinheiro o valor que ele mesmo se dá (sempre tendo em mente o princípio de realidade, o possível financeiramente). Existem casos também que o próprio fato de deslocar-se ao consultório assiduamente já representa em si um pagamento. Um pagamento que se faz pelo próprio bem.
Já uma análise que não esteja “funcionando” leva ao questionamento, “estou disposto a pagar por mim, mas o que recebo na está sendo válido”. Neste caso o aconselhável é a interrupção deste vínculo e a procura por outro profissional.
Um pagamento, determinado por um valor, tem algumas vertentes, a de pagar os custos, a de ter um lucro que pague o serviço e faça-o para compensá-lo e acima de tudo um dado subjetivo, o custo que o analista tem ao entregar seu corpo para a análise (não a sua pessoa, é importante ressaltar, pois esta deve estar “adormecida”, sem interferir na pessoa do analista que é um papel).
Como mensurar este valor? Seria interessante ser calculado caso a caso, afinal existem graus de exigência por parte de cada paciente, mas isso é complicado e, acima de tudo, um dado que só é revelado ao longo do processo analítico. Mas é uma hipótese condizente com o exercício de uma análise.
Todos estes fatores compõe um dado importante, essencial e que sempre aparece como difícil, ou seja, como determinar o preço? Existem tabelas, existem variedades enormes, existem exageros, tanto para mais quanto para menos. É importante haver balizamento, mas acima de tudo o profissional deve achar o seu valor, o seu preço. Nele existe uma individualidade, o que é confortável para um não necessariamente é para outro. O valor pessoal dado pelo próprio profissional vem também de sua subjetividade: quanto valho profissionalmente. Este valor é conquistado, é conseqüência de seu esforço, de sua estrada, de sua autorização enquanto analista. Não é fácil estabelecê-lo, mas é necessário.
Revê-lo, revisitá-lo, repensá-lo deve ser tarefa contínua, pois este contribuirá, andará lado a lado com o psicanalista que vive na pessoa, determinando por fim o quanto esse se conhece e se valoriza. Comecei elaborando sobre quanto o paciente paga em função de quanto acha que merece, a mesma questão deve ser colocada no preço estipulado pelo profissional, ao determinar seu próprio valor. Mantendo sempre essa questão em mente, cabe a nós, refletirmos sempre, em como nosso trabalho está sendo realizado, pois esta será a vertente que nos guiará para estipular nosso valor, o valor a ser cobrado.
Mas, claro, existe o determinante de dado de realidade. Existem contas a serem pagas por quem oferece o serviço. Isso não pode ser ignorado. Cabe a essa pessoa determinar um valor que seja condizente com sua realidade, mesmo que o mínimo. Este valor deve estar sempre presente em sua mente e deve ser respeitado para não cair na armadilha de estar prestando um serviço filantrópico, pagando para realizar seu trabalho, sem a devida escolha consciente.
Cabe então a questão, “quanto o paciente pode pagar”. Alguns, abaixo do mínimo, outros, no limite e outros, acima do mínimo. Cabe a nós fazer a separação e nos perguntar o quanto estamos dispostos a ceder, o quanto estamos dispostos a receber em troca, mesmo que não monetariamente, e o quanto estamos dispostos a rejeitar. Não é fácil conhecer esses dados do paciente, que muitas vezes por não saber mensurar o quanto o seu trabalho analítico vale (o do próprio paciente) pode regatear, mas o importante é, uma vez estabelecido o preço, arcar com ele. O que não impede de tentar chegar sempre o mais perto possível do ideal para os dois.
Para concluir, acima de tudo o que posso dizer é: jamais aceite um valor a pagar que o violente, seja ele alto ou baixo demais, pois isto irá, certamente, desde o começo, comprometer todo o bonito trabalho analítico que pode ser realizado.
Letícia Rangel