Quando os pais passam a ser os “piores do mundo”

Em que momento os pais passam de exemplos, muitas vezes heróis, para aqueles chatos, que não sabem de nada e incomodam? Num processo natural, isso ocorre na adolescência, quando o adolescente passa pela “independização”.

Na adolescência o processo de amadurecimento para a vida adulta, ou o “adultecimento”, requer que o adolescente, além de criar uma identidade própria, rompa com os vínculos infantis para criar um tipo de vínculo mais maduro. É a sua “independização”. Há uma menor tolerância com os pais, que não são mais idealizados como antes e, comumente, uma maior rebeldia. Não é, no entanto, uma ruptura, mas sim uma transformação.

Esse processo, embora doloroso para os pais, que passarão a ser vistos como chatos, errados, caretas, às vezes os “piores do mundo”, é imprescindível. A adolescência é sofrida, é um período de muitas perdas. O adolescente sofre por perder a infância, seu lugar de criança e a dependência de seus pais. É através da desvalorização dos pais que o adolescente poderá se separar deles sem que sinta que está perdendo muito.

Muitas vezes, o grupo familiar acaba por sofrer com essa nova atitude do filho(a), pois há uma perda de controle (que não deve levar à falta de orientação nem de limites). Mas há que se entender e ter paciência: é uma etapa necessária, onde a figura dos pais passa a ser denegrida para que possa ser reconstruída. A boa notícia é que quando se lida com essa fase de forma saudável (por ambas as partes), haverá um retorno. Não a figura idealizada dos pais que as crianças têm na infância, nem à denegrida ao longo da adolescência, mas sim a uma visão mais real deles.

Essa passagem pode ser de grande aprendizagem também para os pais (pois para o adolescente certamente será), quando muitos erros serão apontados, muitos serão exagerados, muitos serão irreais, mas muitos serão verdadeiros. Que tal aproveitar a “independização” dos filhos para fazer uma revisão de valores, de crenças, de conduta? Esses, certamente, estarão sendo bastante questionados pelos filhos adolescentes. Fazer uma “mea culpa” quando necessário, pode ser, inclusive, uma boa forma de aproximação e de aprendizado para ambas as partes e contribuir na construção de um bom relacionamento entre elas para o resto da vida.

Fonte: Outeiral J. Adolescer São Paulo: Livraria e Editora REVINTER Ltda, 2008

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